Deixar que se compare a melhor emissora a lixo, abre um caminho perigoso

É difícil desconstruir convicções de uma pessoa quando não estão bem claras as premissas sobre quais essas convicções foram erguidas. Fica mais fácil debater com alguém quando se conhecem as bases de suas posições; de forma que se possa analisar as lacunas na construção da convicção.

No caso do tema aqui abordado, o surgimento confuso do termo “Globo Lixo”, confesso que tenho enfrentado essa dificuldade (entender as bases do outro) nos debates. Quando leio alguns comentários relacionados à expressão, vejo que são fundamentos esparsos, por vezes difíceis  até de identificar. Em alguns casos, sequer tem algum fundamento; sendo utilizados apenas porque ouviram amigos usando sem refletir sobre veracidade de alegações. Alguns comentários são carregados de ódio e rancor e em outros percebe-se que em algum momento, de forma descontextualizada, viram a emissora divulgando algo que afronta aquilo (ou quem) que defendem e por isso, se tornou uma emissora ruim.

Esse é um aspecto que chega a ser hilário: no campo político, entre os críticos mais ferrenhos da emissora está o grupo que só conseguiu visibilidade e avanço em função do trabalho de esclarecimento desta emissora, em relação ao grupo adversário. Naquela época, o grupo atual apoiava e o grupo anterior é que criticava a emissora por “perseguição”.

Traz preocupação o fato da sociedade induzida por esses grupos, como marionetes, acabar tomando como verdade o jogo de interesses de alguns e também denegrirem determinado canal da imprensa.

Quando esse movimento estava tímido, não me importava, embora já me surpreendesse o silêncio (ou conivência) das demais emissoras, em relação a essa campanha de desmoralização da Globo.

Importante lembra que a história mostra que, quando se age como horda selvagem; não há limites – cedo ou tarde, todos enfrentam as consequências. Ora, ultimamente tem crescido as manifestações queixosas de vários veículos de comunicação relatando hostilizações da população.

É a demonstração mais clara de que esse caminho está errado. Surpreende ainda mais quando se vê, por vezes, pessoas ditas esclarecidas e letradas, se exporem nas redes sociais com essa postura de hostilização de um ou mais canais de imprensa.

Publicamente, já me expressei sobre a Globo quando realizou algo que considerei inadequado. Mas é preciso criticar os fatos em si, para que se melhore; e jamais rotular de forma generalizada.

Até porque, há excelentes profissionais na emissora. Há aqueles que vieram de outras emissoras, ou aqueles que da Globo saíram para em outras atuar. Ora, de uma hora para outra passariam de pecadores para santos ou perfeitos?

Já que falo de bons profissionais, expresso claramente, baseado em fatos: a Globo ainda é a emissora que serve de exemplo e modelo para outras em grande parte da programação.

Me arisco a dizer que estes que criticam com tanto fervor, não representam a maioria da população, que não tem recursos para pagar mensalidade de uma TV por assinatura ou Canal de Internet. Ou, em alguns casos, com total hipocrisia falam em moral e legalidade mas assistem outros canais ditos “melhores”, através de assinaturas piratas ou não oficiais.

Não fosse assim, lhes faço o desafio: encontrar na TV aberta outro canal com mais opções de informação, desenvolvimento e entretenimento de qualidade, com criatividade e profundidade de análise.

Talvez achem que os mais humildes devam ser obrigados a só assistir cultos; brigas de família, desfile de crimes, ou ainda, ser catequizados por apresentadores que fazem questão não só de expor, mas sim, de impor suas opiniões pessoais como se fossem verdades absolutas. Quem já se deu ao tempo de olhar outros canais, entenderá do que estou falando.

E antes que digam que generalizo indevidamente, esclareço: por vezes, a Globo também erra e os outros canais também tem programas bons, dignos de referência.

Mas é preciso avaliar o conjunto e, se a Globo é campeã de audiência, não é simples coincidência. Pessoas defensoras da qualidade em produtos e serviços, jamais poderiam diminuir o valor desta emissora em relação à outras, especialmente neste momento.

A propósito, por falar em qualidade, vejo muitas vezes o JN – Jornal Nacional, campeão de audiência, pedir desculpas por informações incorretas; mas não presencio a mesma preocupação em outras. Será que é porque não erram, ou o telespectador não merece respeito, ou erram intencionalmente?

Vejo atrocidades e barbaridades em outras emissoras, de todos os portes e regiões, mas não vejo os defensores da “Globo Lixo” se posicionarem criticando. Os críticos permanecem quietos.

Como recomendação em relação às críticas às emissoras (inclusive a Globo): falem do que não gostam, mas respeitem os profissionais. Não destruam algo que temos de valioso no Estado Democrático de Direito, que é a liberdade de uma imprensa atuante e independente.

Essa liberdade é nossa guardiã. Deve haver espaço para mostrar as coisas boas. Mas a imprensa séria, deve privilegiar sempre a crítica e apontar as falhas. Se ela não o fizer, quem está no poder não o fará. Quem está no poder, lá está porque assim escolheu e deve não apenas estar preparado para lidar com as críticas, mas principalmente, prestar contas e responder a elas. Jamais tumultuar ou se sentir ofendido por elas.

Se existe um poder moderador necessário no Brasil, é a imprensa. E a Sociedade só será forte se continuar preservando-a como tal.

É dever da Sociedade resguardar a imprensa livre e crítica. E é dever de todos os meios de comunicação não permitir que a sociedade banalize o valor dessa crítica.

Do contrário, estimulando o desrespeito a profissionais da imprensa, ou a uma ou mais emissoras específicas, todos os veículos de comunicação e a sociedade como um todo serão os próximos a ser desrespeitados de forma banal.

#redeglobo #imprensalivre

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