O agro não para! A expressão virou moda e passou a ser utilizada com orgulho.
Enfatizado pela recente pandemia (COVID-19) o setor do agronegócio se tornou vedete da atenção, inclusive de públicos antes alheios à sua importância e talvez até à sua existência. Até na música o “agro ficou chique”.
Foi necessária uma pandemia global para lembrar a importância estratégica desse setor. O tema segurança alimentar, que pairava unicamente em debates institucionais ou acadêmicos, se tornou uma preocupação para toda a população.
Essa popularização é um avanço importante para o agronegócio e deve crescer ainda mais. Mas, traz responsabilidades e desafios para profissionais da área.
Neste dia 5 de novembro, comemoramos o “Dia do Técnico Agrícola”. Data esta, instituída pela Lei nº 13.099/2015, para valorizar uma profissão com formação técnica instituída desde 1910 (ETA – Escola Técnica de Agricultura em Viamão/RS), reconhecida por lei deste 1968 (Lei nº 5.524) e representada por Conselho Profissional próprio (CFTA).
Segundo estimativa da FENATA (Federação Nacional dos Técnicos Agrícolas), são hoje, mais de 350 mil profissionais atuando nessa área, englobando as suas mais diversas ênfases e especialidades (técnico em agronegócio, em agropecuária, florestal, em agroindústria, etc.).
Passados cerca de 100 anos dos primórdios, talvez esta seja a época onde sua importância seja mais decisiva. Nas últimas décadas o país viveu a era da expansão das fronteiras agrícolas e do uso de técnicas universais para aumento da produtividade, muito em função do trabalho do Técnico, que faz o vínculo entre o produtor e as fontes de tecnologia, como academia, indústria e varejo. Através desse trabalho de extensão que técnicas como o plantio direto e sistemas como confinamento e integrações na produção animal se tornaram o padrão do agronegócio, criando recordes na produção de alimentos.
Porém, se os últimos anos mostraram a importância do agro, mostraram também que muitas técnicas e sistemas precisam ser revistos. Plantas resistentes a herbicidas já não permitem a mesma eficiência no plantio direto; o uso padronizado de transgênicos aumenta a pressão sobre custo dos insumos e a influência global no preço de commodities (insumo + produtos) impacta toda a cadeia. Isso, sem levar em conta questões como o novo mercado relacionado a produção de energia a partir de biomassa e o crescimento de exigências relacionadas à produção sustentável.
Os problemas há muito deixaram de ser apenas “técnicos” e aumentou amplitude das demandas do agronegócio.
Em todo o mundo, mais de 10% das pessoas passam fome, cerca de 25% estão acima do peso ou obesas e outros 25% carecem de micronutrientes, podendo estar sub ou superalimentadas (UNEP), e precisaremos alimentar 10 bilhões de pessoas até 2050.
Enquanto há carência de alimento, produtores desistem da atividade: como exemplo, levantamento da Embrapa Gado de Leite (MG), apontou que o número global de produtores de leite no Brasil caia à taxa de 2,7% ao ano na década passada (somente no Rio Grande do Sul, segundo Emater, mais de 50 mil criadores de gado leiteiro abandonaram a atividade nos últimos oito anos).
Ao mesmo tempo, a produtividade na agricultura brasileira cresceu 400% entre 1975 e 2020 (IPEA).
Parecem dados totalmente incoerentes – não parecem tratar do mesmo tema ou falarem de uma mesma realidade. Portanto, há questões contextuais e estruturais que exigem aprofundamento e intervenção com preparo profissional.
Se antes o foco era popularizar e divulgar as técnicas; agora se trata de customização e posicionamento. Não basta ler na internet e sair implantando; cada técnica pode ou não ser recomendada para determinada região ou produtor, com base em avaliação de contexto, custo-benefício e cultura local. Mas também é preciso ir além do mero repasse de técnicas, é preciso mobilizar pela atuação em aspectos estruturais e socioeconômicos que impactam a produção.
A formação técnica passa a ser inclusive, excelente opção para o próprio produtor, permitindo o posicionamento correto frente a avalanche de tecnologias disponíveis.
Ou seja, tanto para o produtor, quanto para o profissional focado na assistência, a visão “personalizada” e reflexão crítica será objeto de atenção cada vez maior do Técnico – para análises assertivas, com visão global e atuação local.

(também disponível em: https://pt.slideshare.net/alexmschneider/dia-do-tecnico-agricola-demandas-do-agronegcio-valorizam-a-necessidade-de-formao )