Série “Cooperativismo” – A experiência de Rochdale, uma cooperativa pioneira

Trabalhar de forma conjunta em sistema de ajuda mútua não é algo novo para a humanidade. Algumas linhas históricas destacam, que o homem como ser social, naturalmente passou a trabalhar em conjunto como única alternativa de sobrevivência desde a pré-história.
O cooperativismo, de forma geral, é um sistema formal pretensamente baseado nessa concepção. A segunda metade do século XVIII, amplamente reconhecida como a era da Revolução Industrial, transformou a realidade não apenas daquela época, como também estabeleceu as bases da sociedade atual da forma que a conhecemos. Embora muitas análises sobre essa época abordem uma concepção mais operacional ou estrutural, enfatizando as mudanças nos sistemas de manufatura das organizações; o maior impacto dessa transformação talvez esteja na adoção do sistema capitalista como modelo de funcionamento global das organizações.
A adoção deste modelo envolve algumas premissas subjacentes, presentes desde aquela época e que até hoje, estabelecem alguns dilemas crônicos, como por exemplo, o desafio de conciliar a busca permanente de aumento na eficiência e produtividade, com desenvolvimento social e manutenção de condições de vida plena para os trabalhadores. (Tragtenberg, 2005)
Portanto, já na época da Revolução Industrial, o descortinar do conceito de produzir cada vez mais e melhor, com menos custo, fez surgir as primeiras questões de incompatibilidade entre capital e trabalho, através da exploração máxima do trabalhador. Trabalhadores (inclusive crianças) dedicavam-se a um número de horas cada vez maior, recebendo proporcionalmente cada vez menos e em condições precárias de higiene e segurança do trabalho.
Para fazer frente à essa realidade, além da criação das primeiras organizações de representação de trabalhadores; surgiram também as primeiras experiências de modelos de negócios alternativos à estrutura capitalista dominante. Várias experiências surgiram em toda a Europa, apresentando estruturas que destoavam do modelo de produção hegemônico, tanto em sua estrutura, quanto na organização do trabalho.
Várias destas experiências não foram exitosas, mas uma em específico obteve sucesso. Em 1844, 28 tecelões da cidade de Rochdale formaram uma cooperativa de consumo (Holyoake, 1893) uma vez que, considerando que os donos de fábricas eram também donos de muitas das mercearias, recebiam pouco pelo trabalho nas fábricas e pagavam muito pelos produtos nas mercearias. A criação da cooperativa tinha objetivo inicial principal comprar alimentos no atacado de forma conjunta, repassar a preço justo entre si e dividir eventuais sobras. Em curto espaço de tempo a organização cresceu, se expandiu para outras regiões e, principalmente, serviu de inspiração para o surgimento de estruturas semelhantes em todos os continentes e nas mais diversas áreas de produção e negócios.
Essa experiência de Rochdale é considerada até hoje, pelo sistema cooperativo, como referência inicial, que serviu de inspiração para determinar a configuração das cooperativas como as conhecemos atualmente.

Obras citadas:
Holyoake, G. J. (1893). The history of the Rochdale Pioneers (Vol. 20). Swan Sonnenschein & Co.
Tragtenberg, M. (2005). Administração, Poder E Ideologia (3o ed). Editora Unesp.

Prédio da cooperativa hoje é utilizado como museu

ESTE TEXTO (original para citação):

SCHNEIDER, Alexandre Marcelo. Série “Cooperativismo” – A experiência de Rochdale, uma cooperativa pioneira. In: ARTIGOS E PUBLICAÇÕES – A. M. SCHNEIDER. 14 jan. 2025. Disponível em: https://schneider.pro.br/artigos-e-publicacoes/.

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